A FNAM foi surpreendida com a divulgação de um vídeo, que repudia veementemente, no qual o Sr. Primeiro-Ministro, em conversa privada com jornalistas do jornal Expresso, afirma, ainda a propósito do ocorrido no lar de Reguengos de Monsaraz: «É que o presidente da ARS mandou para lá os médicos fazer o que lhes competia e os gajos, cobardes, não fizeram.»
Estas declarações, proferidas por um chefe de Governo, são chocantes e totalmente inapropriadas, insultando de forma vergonhosa e indigna todo um grupo profissional cuja competência, capacidade de trabalho e resiliência para exercer a sua profissão em condições cada vez mais degradadas, pondo os interesses dos doentes acima de qualquer outra consideração, não pode ser contestada.
Por outro lado, não são verdadeiras as afirmações que o Primeiro-Ministro vem proferindo desde há uma semana, acusando os médicos de se terem recusado a prestar serviço no referido lar. Os médicos têm vínculo com a sua entidade empregadora, que não é o lar de Reguengos de Monsaraz, e têm obrigações para com os utentes da unidade onde desempenham funções – o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Alentejo Central – e que se viram privados de acesso ao seu médico.
O desempenho dos médicos durante todo o decurso da pandemia por SARS-CoV-2 foi exemplar, sujeitando–se à reorganização dos serviços, a uma carga horaria excessiva, a limitações de acesso a equipamentos de proteção individual adequados, com casos de profissionais infetados, que culminou numa morte e em sequelas respiratórias permanentes em muitos outros.
Além disso, os médicos constituem o único grupo profissional para quem ainda está suspenso o limite de horas extraordinárias, apesar de o país já não se encontrar em Estado de Emergência ou de Calamidade. Apesar de todo o esforço e dos riscos assumidos, o Governo nada tem feito para melhorar as condições de trabalho dos médicos.
Também em Reguengos de Monsaraz, os médicos prestaram assistência aos utentes do lar, de forma voluntária, apesar das condições desumanas em que os encontraram, e cumpriram a sua obrigação de denúncia desta situação de abandono e da falta de segurança em que lhes foi exigido desempenhar as suas funções.
Os médicos, ao contrário de gestores e outros administradores, em que não houve infetados em consequência da sua atividade – e sendo os gestores os verdadeiros responsáveis pelo atual caos reinante nos serviços de Saúde –, foram e continuam a ser fundamentais para a garantia do acesso a cuidados de saúde de qualidade e mesmo para a recuperação económica do país. Merecem, assim, ser tratados com respeito e consideração por todos e sobretudo pelo Primeiro-Ministro de Portugal.
Não estando surpreendidos com esta atitude (ela infelizmente é um comportamento frequente dos gestores), entendemos que o Sr. Primeiro-Ministro tem a obrigação de garantir o interesse publico e não os interesses individuais ou de alguns.
Os médicos não aceitam trabalhar sob intimidação, seja do Primeiro-Ministro ou de qualquer outro membro do Governo.
A FNAM exige que o Primeiro-Ministro se retrate das declarações insultuosas que proferiu e que o Presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, a Diretora-Geral da Saúde e as Ministras da Saúde e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social assumam as suas responsabilidades no caso de Reguengos de Monsaraz.
24 de agosto de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
É aos profissionais de saúde que se deve o elogiado desempenho do SNS durante a pandemia.
A FNAM exige que o Primeiro-ministro se retrate das acusações e insultos proferidos contra os médicos e que se empenhe no reforço do SNS.
Procedimento concursal comum conducente ao recrutamento de pessoal médico integrado na carreira especial médica e na carreira especial médica dos estabelecimentos de saúde com natureza jurídica de entidade pública empresarial integrados no Serviço Nacional de Saúde - áreas hospitalar, saúde pública e medicina geral e familiar
Aviso n.º 11771-A/2020 - Diário da República n.º 156/2020, 1º Suplemento, Série II de 2020-08-12
Saúde - Administração Central do Sistema de Saúde, I. P.
No atual contexto de emergência sanitária em que a necessidade de recursos humanos médicos se faz sentir diariamente e de forma transversal, é inadmissível que o Governo seja responsável pelo atraso na abertura dos concursos de recrutamento de médicos recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar, hospitalares e Saúde Pública.
O atraso na abertura do concurso para os cerca de 396 recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar, cujas notas se encontram homologadas desde o passado dia 16 de junho é inaceitável e ultrapassa largamente os 30 dias previstos na Lei n.º 55/2018. Por outro lado, as notas do exame da especialidade dos 825 médicos hospitalares, concluídos desde o dia 3 de julho, estão por homologar. Muitos destes recém-especialistas estão atualmente a desempenhar funções que têm de ser pagas de acordo com a categoria da carreira médica correspondente, e não num salário inferior relativo ao regime de Internato. Esta atitude reflete uma enorme falta de respeito pelos jovens médicos, apesar do esforço que muitos têm feito na linha da frente.
O Ministério da Saúde continua a desvalorizar a carreira médica, ao recusar abrir concursos de mobilidade, que permitiriam uma maior taxa de fixação de médicos, e a deixar por concluir os concursos para consultor e assistente graduado sénior relativos aos anos de 2017 e 2019. A par deste panorama, renova-se o regime de «exceção» que permite a contratação de médicos aposentados e que retira vagas aos médicos recém-especialistas.
A atual política do Governo na gestão dos recursos humanos médicos é catastrófica em termos de destruição da carreira médica e precarização dos médicos, com consequências nefastas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A FNAM exige celeridade nos procedimentos concursais e o cumprimento dos prazos estabelecidos por lei. É urgente colocar os médicos no SNS, onde eles são necessários, assegurando-lhes uma carreira digna e garantindo a capacidade e qualidade de prestação de cuidados aos utentes.
4 de agosto de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
Na atual situação epidemiológica por força da pandemia de COVID-19, o Ministério da Saúde decidiu referenciar os utentes dos serviços de urgência triados com cor branca (atendimento que pode ser programado), azul (não urgente) ou verde (pouco urgente) para os Cuidados de Saúde Primários.
Este procedimento encontra-se contemplado no Despacho n.º 5314/2020, referindo, no ponto 3, que «Enquanto a situação epidemiológica do país o justificar, e em especial durante o estado de calamidade, os estabelecimentos e serviços do SNS garantem que a realização da atividade assistencial ocorre: [...] e) Com referenciação dos episódios de urgência triados com cor branca, azul ou verde nos serviços de urgência hospitalares para outra tipologia de cuidados de saúde, nomeadamente, para os cuidados de saúde primários e para outras respostas hospitalares programadas, com agendamento direto por hora marcada.»
Esta alínea mereceu a devida reflexão por parte da Comissão Nacional de Medicina Geral e Familiar da FNAM que considera não estarem reunidas as mais elementares condições para este procedimento:
- Com listas de utentes dos médicos de família sobredimensionadas (1.900 utentes por médico), sem uma ponderação adequada às características populacionais e à realidade epidemiológica, numa altura em que os Cuidados de Saúde Primários (CSP) estão sobrecarregados a orientar e tratar mais de 90% dos doentes suspeitos ou confirmados de COVID-19, para além da recuperação da atividade assistencial, é irresponsável criar expetativas de atividades e procedimentos que impliquem o aumento dessa sobrecarga.
- A marcação direta nas agendas dos médicos de família – que já funcionam diariamente para além da sua capacidade – dos utentes triados nos Serviços de Urgência como brancos, azuis e verdes, por decisão do enfermeiro da triagem, poderia levar a iniquidade de acesso a nível dos CSP, correndo-se o risco de se incentivar a utilização errónea dos serviços.
- Fazer crer que tal seria possível sem um redimensionamento das listas de utentes e a contratação de mais médicos de família revela um completo desconhecimento da realidade existente e das condições de trabalho dos CSP.
- O presente despacho não teve em conta a autonomia funcional das Unidades de Saúde, como consta no Regime Jurídico das Unidades de Saúde Familiar.
A FNAM, reconhecendo a necessidade de melhorar a integração de cuidados, encontra-se disponível para participar na discussão de todas as medidas que possam melhorar esta integração sem colocar em causa a qualidade assistencial, não aceitando de modo nenhum que sejam impostas medidas avulsas e unilaterais.
28 de julho de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
A pandemia por COVID-19 veio demonstrar a todos os países do mundo a importância de uma Saúde Pública forte e com um planeamento estratégico que permita dotar os países dos recursos necessários em cada momento. No entanto, em Portugal esse reconhecimento tem-se ficado apenas pelas palavras e, por vezes, nem isso.
O Fórum Médico de Saúde Pública reuniu hoje com o Presidente da República, num momento crítico para o país em termos de desconfinamento, com o Presidente a reconhecer a importância da especialidade de Saúde Pública, e o importante combate na pandemia, apesar dos escassos meios. Durante a reunião, foram transmitidas várias preocupações ao Presidente e que expõem as fragilidades em termos de recursos humanos, os problemas no planeamento e comunicação e a separação pouco clara entre a componente técnica e política. Problemas esses que têm também impacto no turismo e na economia e que podem arrastar Portugal para uma situação ainda mais complicada, num país com uma economia pouco consolidada.
Independentemente dos problemas, o Fórum saúda o enorme esforço e o trabalho exemplar desempenhado pelos médicos de saúde pública, que, mesmo com todos os constrangimentos, têm estado sempre do lado da solução e do lado da população. Ainda assim, não poderíamos deixar de destacar ao mais alto nível que a resposta do Ministério da Saúde a este esforço tem sido a de continuar a desvalorizar os problemas relatados e que seriam de rápida e fácil resolução, como a alocação dos recursos solicitados, a clarificação do pagamento das horas extraordinárias em dívida aos médicos de saúde pública ou a implementação do subsídio de autoridade de saúde.
A falta de planeamento é ainda mais preocupante quando se sabe que começar já a preparar o inverno é imprescindível para lidar com uma possível segunda vaga, que encontrará um país mais pobre, com mais pessoas em lista de espera para cuidados de saúde e a que se somará a gripe sazonal. A valorização que foi dada em sede de orçamento extraordinário à Saúde Pública foi de apenas 700 mil euros em plena pandemia, o que impede o SNS de dar uma adequada resposta à pandemia por COVID-19 e futuras emergências de Saúde Pública.
Desta forma, a abnegação dos médicos de saúde pública não tem sido correspondida por uma melhoria das suas condições de trabalho. Pelo contrário, foi no desconfinamento que se tornaram ainda mais visíveis as fragilidades e a penúria das equipas de saúde pública e, muito em particular, dos meios para melhorar a saúde dos cidadãos colocados ao dispor dos médicos especialistas e médicos internos de saúde pública. Os sistemas de informação não dão respostas fiáveis e não estão a ser contratados todos os recursos técnicos e humanos que poderiam apoiar a Saúde Pública no rastreio de contactos. O reforço de 30 especialistas de Saúde Pública que a tutela divulgou não corresponde a um aumento efetivo do número de recursos humanos disponíveis, uma vez que esses 30 médicos internos que agora concluíram a sua formação especializada já colaboravam no trabalho até aqui realizado pelos serviços locais e regionais de Saúde Pública.
O Fórum Médico de Saúde Pública recorda as medidas essenciais que o Ministério da Saúde continua sem implementar:
- Disponibilização de um plano de gestão da pandemia, com objetivos e cenários claros;
- Reforço das equipas de Saúde Pública, com contratação e formação de profissionais;
- Investimento na melhoria do sistema de informação, com interoperabilidade, e integração das notificações clínicas e laboratoriais;
- Avançar com a imprescindível Reforma da Saúde Pública que reformule o conteúdo funcional e a organização dos serviços de saúde pública;
- Remunerar, de acordo com a legislação em vigor, o suplemento devido ao exercício das funções de Autoridade de Saúde e atualizar o valor do subsídio de disponibilidade permanente – conforme previsto, anualmente, na legislação em vigor, mas nunca realizado;
- Compensar os médicos de saúde pública pelo trabalho extraordinário realizado durante a pandemia, bem como aplicar o direito ao descanso compensatório.
Lisboa, 06 de julho de 2020
Fórum Médico de Saúde Pública
(Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Federação Nacional dos Médicos, Sindicato Independente dos Médicos e Ordem dos Médicos)
O «prémio» aos profissionais de saúde, de carácter pontual, que foi aprovado esta quarta-feira, não compensa o risco inerente ao exercício da profissão médica e pode deixar de fora a maioria dos médicos que têm participado no combate à pandemia por SARS-CoV-2.
A proposta do PSD, que foi aprovada durante a discussão em sede de especialidade do Orçamento Suplementar, visa todos os profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que durante o estado de emergência tenham praticado «de forma continuada e relevante, atos diretamente relacionados coma pessoa de suspeitos e doentes infetados por COVID-19», não sendo clara quanto à identificação dos profissionais que serão abrangidos pela medida.
A FNAM sublinha que todos os profissionais, independentemente do local onde exercem funções (centros de saúde, urgências hospitalares, consulta, internamento ou, como a Saúde Pública, na comunidade), mesmo que em instituições ou unidades não exclusivamente dedicadas à COVID, têm tido um papel crucial na resposta à pandemia, não só assegurando o atendimento a doentes COVID, como também mantendo a prestação de cuidados a todos os restantes utentes.
O exercício da profissão médica acarreta riscos significativos, que não estão limitados à pandemia por COVID-19. Foi assim durante os anteriores surtos de outras doenças infeciosas como a gripe A, o ébola e o sarampo e assim continuará a ser em caso de qualquer nova situação epidémica. No contexto da atual pandemia, para além da maior penosidade do trabalho, os médicos têm sido expostos a um elevado risco de infeção por SARS-CoV-2. Em consequência, centenas de médicos já foram infetados e lamentamos a morte recente de um colega.
A FNAM considera que a atribuição pontual de um prémio de desempenho e de majoração de dias de férias em 2020, como previsto na proposta aprovada, não compensa de forma justa o risco a que os médicos estão sujeitos, diariamente e ao longo do exercício da sua profissão. Tal prémio não pode, em qualquer circunstância, substituir o estatuto de risco e penosidade que a FNAM sempre tem defendido.
A FNAM espera, legitimamente, que o Governo não venha criar desigualdades injustificáveis entre profissionais de saúde. Os médicos não aceitam outra atitude da tutela que não seja o reconhecimento do enorme esforço e abnegação destes profissionais durante a pandemia.
A FNAM espera uma posição de abertura por parte do Ministério da Saúde para negociar a proposta de estatuto de risco e penosidade acrescidos da profissão médica, que recentemente apresentou.
2 de julho de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
Depois das declarações proferidas pelo Sr. Primeiro-Ministro e apesar das suas explicações, a FNAM considera que a nossa interpretação não é feita de «má-fé», uma vez que:
- A Ministra da Saúde nunca reuniu com os sindicatos médicos desde as eleições legislativas;
- A Ministra da Saúde nunca procurou ouvir os profissionais que estão «no terreno» desde a pandemia por SARS-CoV-2;
- As reuniões entre os sindicatos médicos e o Secretário de Estado da Saúde têm sido desprovidas de resultados com claro desrespeito pelos profissionais médicos;
- Os médicos estão «na linha da frente», arriscando a sua vida e não se sentem protegidos (veja-se o recente falecimento dum médico e o número de médicos infetados);
- A gestão das instituições de saúde perante esta pandemia foi errática a gerir as necessidades reais da saúde dos cidadãos, o que suporta a debilidade de um sistema puramente administrativo;
- Os médicos estão desmotivados e continuam a abandonar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) à procura de melhores condições de trabalho;
- As políticas ministeriais são meramente populistas como o recente anúncio da contratação de cerca de 3.000 profissionais de saúde, que não inclui médicos;
- A revogação de direitos laborais fundamentais foi posta em causa com o Estado de Emergência e de Calamidade, sendo exemplo a imposição da ausência de limites para a realização de trabalho extraordinário.
Apesar das palavras do Sr. Presidente da República que veio a público reconhecer que os profissionais de saúde merecem «mais do que palavras de reconhecimento» e aponta a necessidade de existirem «meios adequados e as carreiras adequadas no seio do SNS», receamos que a ausência de medidas concretas e urgentes culmine num abandono dos médicos do SNS, com o consequente colapso dos serviços de saúde durante a previsível nova vaga de SARS-CoV-2.
Assim, a FNAM dá conhecimento à população de 10 das medidas enviadas para o Ministério da Saúde, passíveis de negociação faseada, e que considera serem importantes contributos para o fortalecimento do SNS, e para as quais não obtivemos resposta:
- A consideração da profissão médica como de risco e penosidade acrescidos;
- A renegociação da carreira médica, que implica uma reestruturação dos serviços do SNS com maior qualidade e eficiência nos cuidados médicos prestados.
Esta renegociação da carreira médica é acompanhada por uma proposta de grelha salarial que inclui como ponto fulcral o retorno à dedicação exclusiva opcional e majorada; - A valorização do trabalho extraordinário efetuado em Serviço de Urgência e para a recuperação da atividade assistencial em atraso, de acordo com o já previsto no Orçamento do Estado de 2020;
- A revogação da ausência de limite para as 150 horas de trabalho extraordinário;
- A redução do tempo normal de trabalho no Serviço de Urgência, das 18 para as 12 horas, e redimensionamento da lista de utentes dos médicos de família;
- O reconhecimento da figura legal de Autoridade de Saúde para os médicos de Saúde Pública, com consequente suplemento, e aplicação uniforme do regime de disponibilidade permanente;
- A reformulação da atual «reforma hospitalar», que inclua uma governação clínica, componente nuclear para que se concretize a mudança dos padrões de gestão que atualmente apenas visam cumprir orientações políticas;
- A abertura imediata dos vários concursos de progressão na Carreira Médica;
- A organização do trabalho em Serviço de Urgência com equipas dedicadas;
- O combate à precariedade dos trabalhadores médicos a recibos-verdes e à existência de médicos indiferenciados sem acesso à formação médica especializada.
A FNAM informa ainda que continua disponível para negociar e que se tal não vier a acontecer, será o Ministério da Saúde o responsável pelo futuro do SNS e dos seus médicos.
26 de junho de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
A precariedade laboral entre os médicos é uma realidade crescente e ainda pouco conhecida, que confere menor proteção no trabalho.
Por isso, a FNAM elaborou um questionário para melhor defender os direitos dos colegas com vínculos precários, sobretudo no contexto da pandemia por COVID-19.
Se trabalhas apenas com vínculos precários, ou seja, sem um contrato permanente, preenche o questionário.
É anónimo e demora 5 minutos.
A FNAM saúda os trabalhadores da Administração Pública e a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública pelo Plenário Nacional de Trabalhadores de 25 de junho.
A luta dos trabalhadores da Administração Pública tem como objetivo a dignificação das carreiras e dos salários, a contratação de novos trabalhadores e a valorização dos serviços públicos e das funções sociais do Estado.
A FNAM considera fundamental a existência de carreiras, a dignificação das mesmas e dos trabalhadores, bem como defende serviços públicos de qualidade e solidariza-se com os trabalhadores da Administração Pública.
Coimbra, 25 de junho de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
A atual situação de pandemia por SARS-CoV-2 obrigou à orientação da atividade assistencial, no sentido de privilegiar a atividade não presencial, sempre que possível. Durante o Estado de Emergência, multiplicaram-se as consultas programadas ou de doença aguda via telefone ou e-mail, assim como as solicitações de telecontacto por parte dos utentes, gerando uma enorme sobrecarga de trabalho para os médicos.
Esta situação é transversal a todas as especialidades hospitalares e aos Cuidados de Saúde Primários. No caso dos médicos de família, para além do seguimento regular dos utentes e das tarefas de vigilância de saúde e rastreio, foi ainda incluído o seguimento de utentes com suspeita ou confirmação de COVID-19 (Trace COVID-19). O resultado tem sido o prolongamento não remunerado das suas atividades, muito para além do normal horário de trabalho e o encurtamento do tempo em que é realizado cada ato assistencial, presencial ou não presencial, o que compromete a segurança e a qualidade dos atos médicos prestados.
Apesar de justificável e necessária, a previsível manutenção desta situação a médio prazo, com alargamento da atividade assistencial não presencial, assim como a solicitação de atos médicos por vias sem regulamentação ainda definida, associada à acumulação de necessidades e exigências por parte dos doentes, levou a uma situação verdadeiramente insustentável nas várias unidades de saúde.
No momento em que as equipas receberam ordem para recuperar a atividade assistencial não realizada durante as semanas do Estado de Emergência, sem previsão de qualquer mecanismo para tornar possível esta recuperação, a FNAM considera urgente que o Ministério da Saúde efetive:
- A delimitação de períodos nos horários de todos os médicos para a atividade assistencial, presencial e não presencial, bem como para a atividade não assistencial, que sejam realistas e permitam dedicar tempos de consulta adequados e em conformidade com o definido pela Ordem dos Médicos;
- A atribuição de tempo para a gestão da lista de utentes dos médicos de família, fundamentais num momento de reorganização dos serviços;
- Um programa de recuperação de consultas e atividade em atraso nas várias especialidades médicas, que permita dar resposta atempada às necessidades dos utentes, garantindo a qualidade da atividade assistencial, evitando a sobrecarga e esgotamento de todos os médicos.
- A contratação e a fixação de médicos especialistas de modo a reforçar de forma sustentada a recuperação das listas de espera em particular e o SNS em geral.
12 de junho de 2020
A Comissão Executiva da FNAM
O Conselho Nacional da FNAM, reunido a 06/06/2020, reconhece que a situação criada pela pandemia a SARS-CoV-2 confirmou, sem qualquer dúvida, a qualidade de resposta do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a competência e capacidade de abnegação de todos os seus profissionais.
No entanto, também pôs a nu algumas das suas deficiências, consequência de anos de políticas governativas desinvestidoras do SNS, do subfinanciamento crónico das instituições e de práticas de gestores incompetentes, politicamente nomeados para os vários órgãos da administração regional e local.
O contexto de pandemia que temos vivido veio por a descoberto uma série de problemas inerentes ao trabalho dos médicos: a falta de material e equipamentos, as longas horas de trabalho, o incumprimento dos descansos legalmente previstos, a exposição direta ao risco de infeção por agentes biológicos, a exaustão física e psicológica – o que tem agravado a desmotivação, arrastada desde há muito, por sentimentos de desvalorização.
A Carreira Médica, pensada e definida em 1961, tem sido alvo de consecutivos ataques por parte de interesses particulares, que a veem como uma área de negócio crescente e que negam o direito de acesso universal à saúde.
Os médicos têm sido sucessivamente desconsiderados, desmotivados e mesmo maltratados, levando-os a crer que o SNS não lhes reserva qualquer perspetiva de futuro, em termos de desenvolvimento da sua carreira e remuneratórios. Desde a crise de 2012, que os médicos foram o grupo profissional que mais perdeu poder de compra.
A FNAM continua a acreditar no SNS e na recuperação dos princípios e da essência da Carreira Médica.
Para promover a melhoria do funcionamento do SNS, a prestação de melhores cuidados aos doentes, a valorização do trabalho médico e a motivação dos seus profissionais, a FNAM propõe, de acordo com um conjunto de documentos que aprovou:
- a reestruturação da Carreira Médica e das respetivas grelhas salariais;
- considerar a profissão médica como sendo de risco e penosidade acrescidos;
- um programa de recuperação das listas de espera / atividade assistencial em atraso
- a valorização do trabalho realizado em Serviço de Urgência;
- a adoção do regime de trabalho em dedicação exclusiva, majorada e opcional;
- a criação de equipas dedicadas ao Serviço de Urgência;
- a revisão e reformulação do atual processo de «reforma» hospitalar.
A FNAM está disponível para negociar as suas propostas e espera do Ministério da Saúde total abertura para essa negociação. Seria incompreensível que o Ministério da Saúde negasse a valorização do trabalho dos médicos e a proteção destes profissionais, que têm assegurado de forma notável a linha da frente no duro combate a esta pandemia.
A FNAM irá dar conhecimento destas medidas aos seus associados, ao Ministério da Saúde e aos grupos parlamentares.
O Conselho Nacional da FNAM
6 de junho de 2020