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Direção Executiva do SNS promove transferência ilegal de médicos internos

A Direção Executiva do SNS está a impor a deslocação de médicos internos dos hospitais onde estão em formação para outras unidades de saúde, muitas vezes a grandes distâncias, como foi notícia recentemente relativamente ao serviço de Ginecologia-Obstetrícia do Hospital de Leiria. Anteriormente, no Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), o Conselho de Administração também tentou coagir os médicos internos de Pediatria a garantiram as urgências quando se encontravam a trabalhar a centenas de quilómetros de distância.

No caso do Hospital de Leiria, a Direção Executiva do SNS ordenou a transferência de médicas internas de Ginecologia e Obstetrícia da Unidade das Caldas da Rainha, que estariam a estagiar no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no Hospital de São João, no Porto e no Hospital Dr. José de Almeida, em Cascais.

O objetivo tem sido preencher as escalas do serviço de urgência de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Leiria, para onde são transferidas as grávidas que seriam encaminhadas para a Unidade das Caldas da Rainha, que integra o Centro Hospitalar do Oeste, à custa da formação e das condições de trabalho dos médicos internos.

Já os médicos internos de Pediatria do CHUA, que denunciaram a sua situação numa carta aberta, no início de junho, também foram coagidos pelo Conselho de Administração para cumprir o serviço de urgência deste hospital, quando estariam a realizar o estágio em Lisboa, Coimbra ou no Porto, com prejuízo para a sua formação e vida pessoal.

A banalização do trabalho dos médicos internos como «pau para toda a obra» prejudica a sua formação especializada e não garante o normal funcionamento dos serviços. É fundamental que o Ministério da Saúde não cause mais disrupção no SNS e implemente medidas para fixar médicos, garantindo salários, horários e condições de trabalho dignas. Só assim é possível garantir a plena atividade dos serviços.

A FNAM tem vindo a batalhar para a integração dos médicos internos na carreira médica, uma vez que representam um terço dos médicos disponíveis, pelo que a capacidade de resposta do SNS depende, em boa medida, da sua força de trabalho. Assim, passariam a ser protegidos pelos acordos coletivos de trabalho e dos abusos da Direção Executiva e diversas Administrações.

Não é a primeira vez que a Direção Executiva toma decisões sem ouvir médicos nem profissionais de saúde, fazendo tábua rasa da lei – que impede que os médicos internos possam realizar urgências a mais de 50 km do local onde estão a estagiar -, das melhores práticas em saúde e do respeito pelas condições de trabalho dos médicos. Tem sido assim, por exemplo, com encerramento rotativo e a deslocalização de serviços, em particular na região de Lisboa e Vale do Tejo.

Greve 1 e 2 de agosto

Última reunião com Ministro da Saúde: Um acordo de princípios para salvar o SNS ou greve dos médicos a 1 e 2 de agosto

Na próxima sexta-feira, 21 de julho, às 14h30, realiza-se no Ministério da Saúde (MS), uma última reunião, a pedido do MS, para uma derradeira tentativa para conseguir um acordo de princípio que seja capaz de salvar o SNS.

Vamos para essa reunião com o compromisso de Manuel Pizarro em apresentar uma proposta que incorpore as revindicações da FNAM, que tem defendido um modelo equilibrado, capaz de concretizar a valorização salarial para todos os médicos, reduzir horários semanais, em urgência e as horas extraordinárias, de desenhar um novo regime de trabalho, defender e integrar os internos no primeiro escalão da carreira, sem abrir mão do descanso compensatório e da universalidade dos direitos que visam a segurança dos médicos e dos doentes.

Lamentavelmente, ainda não recebemos essa proposta do MS – que inclua a revisão da tabela salarial para todos os médicos – para que se saiba, atempadamente, em que assuntos o MS avançou ou não, e garantir que a reunião de 21 de julho seja efetivamente conclusiva.

Não obstante o nosso empenho nas negociações, o resultado não depende de nós, mas da vontade política do Ministério da Saúde. A FNAM defende, com toda a transparência, um acordo de princípios capaz de salvar o SNS, garantindo médicos nos cuidados de saúde primários e hospitalares. Seremos os primeiros a manter e intensificar as formas de luta caso nos deparemos com mais um simulacro negocial, que mais não demonstre a intenção de ludibriar a comunidade médica e confundir a opinião pública.

Não é o cenário que queremos ver, nem para o qual temos trabalhado, mas, caso assim aconteça, não só manteremos a greve nos dias 1 e 2 de agosto, como seremos obrigados, devido à intransigência e ao radicalismo do Ministério da Saúde, em reforçar o calendário de luta em defesa do futuro do SNS.

O pré-aviso de greve para 1 e 2 de agosto pode ser lido na íntegra aqui.

Fim ao assédio

Sentença exemplar contra o assédio laboral tem de resultar na responsabilização ministerial e administrativa bem como na reintegração da vítima

A FNAM saúda a sentença emitida sobre o caso de assédio laboral na Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM) e, à imagem do que já tinha feito o Sindicato dos Médicos do Norte (SMN) – um dos três sindicatos que constitui a FNAM –, exige a suspensão imediata do Diretor de Departamento que foi responsabilizado judicialmente.

Com esta sentença contra o assédio laboral e moral aos médicos da ULSAM, ficaram provadas as diversas práticas abusivas. Face ao assédio moral praticado pelo Diretor de Departamento da Medicina Crítica, função que acumula com a Direção de Serviço da Medicina Intensiva, a FNAM exige a sua suspensão imediata e a reintegração da vítima.

O fundamento do despedimento, agora declarado ilícito, comprova a prática de assédio deste diretor, protegido pelo Conselho de Administração (CA). A negação das competências da médica e a tentativa de forçar à rescisão do contrato em ambiente intimidatório sob falso pretexto são fatores conhecidos de assédio que a fundamentação da sentença escalpeliza à exaustão, terminando, como não poderia deixar de ser, com a condenação da ULSAM e a reintegração da médica em causa.

Agora que temos uma sentença exemplar, que condena as atitudes ameaçadoras desse Diretor para com os médicos, não poderemos aceitar que continuem as más práticas, estejamos a falar da elevação frequente do tom de voz, da tentativa de contacto fora do local e horário de trabalho, de um clima permanente de chantagem e atemorização, que se reflete de forma negativa na vida pessoal e profissional dos médicos, colocando também em risco a qualidade dos serviços prestados aos doentes.

A FNAM quer que esta sentença não seja apenas um caso isolado e faça o seu caminho, nomeadamente a nível governamental, onde se exige uma intervenção urgente por parte da tutela, tal como foi pedido pelo SMN, enviando, para o efeito, uma missiva dirigida ao Ministro da Saúde, mas também à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e demais entidades fiscalizadoras.

A situação é inaceitável e não podemos obliterar que a responsabilidade é também do Ministro da Saúde, que já devia ter nomeado o novo CA, que, recordamos, aguarda nomeação desde 2019. É lamentável e inadmissível que uma chefia que pratica assédio laboral, agora comprovado em tribunal, se mantenha em funções com a conivência do CA, que habitualmente também tem uma atitude autoritária para com os profissionais de saúde.

Para a FNAM, é fundamental que esta sentença faça escola e a devida jurisprudência, ajudando assim a combater o assédio, laboral ou de outra natureza, até que sejamos capazes de erradicar esta prática do terreno laboral da saúde ou onde quer que ela se manifeste.

Para os colegas que estejam a enfrentar situações idênticas, saibam como proceder no “Guia sobre assédio no local de trabalho”, disponível no site da FNAM.

Reforçar o SNS

Ministério da Saúde pede última reunião para apresentar uma proposta final de acordo

A FNAM mantém a hipótese da greve nos dias 1 e 2 de agosto, caso o Ministro se revele incapaz de uma aproximação séria, programática, capaz de salvaguardar o futuro do SNS.

Não era o cenário que desejávamos, não foi o resultado pelo qual temos vindo a lutar, mas o governo, por via do Ministério da Saúde (MS), não foi ainda capaz de apresentar um acordo à altura das necessidades do SNS.

Assim, face ao impasse, o Ministério da Saúde pediu uma última reunião, marcada provisoriamente para o próximo dia 17 de julho, às 15h, no MS, com as duas estruturas sindicais médicas, para apresentar uma proposta escrita, que, segundo Manuel Pizarro, terá em conta parte importante das reivindicações que a FNAM tem vindo a defender.

Face a esse compromisso, e porque, da nossa parte, haverá sempre margem para um último esforço, confirmamos a nossa disponibilidade para esse momento, que fazemos votos que não seja apenas um simulacro.

Assinaremos um acordo e reverteremos a greve do dia 1 e dia 2 de agosto, caso se reverta a perda de direitos dos médicos, se avance para uma definição precisa do que se entende por dedicação plena, se garanta a equidade entre as várias áreas médicas e que se assegure que a Saúde Pública não continua esquecida.

O mesmo vale relativamente à integração dos médicos internos no primeiro nível da carreira médica, no recuo face ao aumento das horas extraordinárias e à salvaguarda dos descansos compensatórios.

Em suma, um acordo capaz de salvaguardar o futuro da atividade médica, e que reverta a sangria de quadros para fora do SNS e do país.

Caso tal não seja uma realidade, a FNAM não tem outra alternativa do que a de continuar e aprofundar as formas de luta, no volume e intensidade que se revelem necessárias para salvaguardar um SNS capaz de servir os utentes nas melhores condições a que têm direito.

O corte radical de Pizarro

Greves com 90 e 95% de adesão e estudo de Eugénio Rosa sustentam unidade e argumentação dos médicos na véspera da última ronda negocial

O mais recente estudo do economista Eugénio Rosa confirma o cenário que a FNAM tem vindo ao colocar ao Ministério da Saúde, ao longo dos últimos 14 meses de negociações.

Neste estudo, que parte de dados oficiais, Eugénio Rosa analisa a situação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e mostra que o orçamento que o governo aprovou para 2023 «é insuficiente a nível de despesas com pessoal (aumento de apenas 2,3% entre 2022 e 2023) para compensar os profissionais de saúde da inflação prevista para 2023 (entre 5% e 6%)». No mesmo sentido, Eugénio Rosa considera que a dotação orçamental também é insuficiente «para garantir remunerações dignas e uma carreira digna aos médicos do SNS».

Eugénio Rosa denuncia também que o desinvestimento no SNS e nas carreiras médicas é uma forma enviesada do Ministério da Saúde privilegiar o sector privado, no sentido em que, ao não oferecer condições mínimas de dignidade, a tutela está a empurrar os profissionais para fora do SNS e, não raras vezes, para fora do país.

Foi clara nesta greve a adesão massiva dos médicos em início de carreira, sejam internos, sejam recém-especialistas. Esta evidência é simultaneamente um reforço das nossas convicções relativamente às propostas que temos apresentado, quer um sinal claro que nenhum acordo poderá ser aceite pela FNAM caso ele hipoteque o futuro dos jovens médicos.

Assim, por tudo isto, é para nós claro que as propostas da FNAM ganham ainda mais relevância e resguardo teórico, e que as nossas linhas vermelhas nas negociações são o garante de salvaguarda do futuro do SNS. É também claro que os 90% e 95% de adesão da mais recente greve dos médicos, realizada nos dias 5 e 6 de julho, tem um significado que não pode ser desvalorizado pela tutela, e que expressa uma grande unidade da classe no que diz respeito às reivindicações que a FNAM tem colocado em cima da mesa.

Não apresentamos uma proposta irrealista. Defendemos uma proposta equilibrada, negociada e sem ultimatismo, que defende e integra os internos no primeiro escalão da carreira, que defende a valorização salarial, que reduz os horários semanais e de tempo de urgência e de horas extra, que desenhe um novo regime de trabalho, que não abra mão do descanso compensatório, que não esqueça a saúde pública e a universalidade dos direitos.

Acreditamos que a intransigência negocial e o radicalismo programático até aqui apresentado pelo Ministério da Saúde terá um fim e que acabará por ser sensível quer à argumentação que temos apresentado quer à mobilização que foi demonstrada, cabalmente, na greve.

Acreditamos que apesar das dificuldades orçamentais ainda é possível um bom acordo, sem perda de direitos e sem jogadas de bastidores. Um acordo que seja capaz de integrar os internos no primeiro nível da carreira médica, que não obrigue nenhum médico a aumentar o número de horas extraordinárias, que majore de forma equitativa as tabelas salariais base e que bonifique, sem contrapartidas medievais, a nova forma de dedicação.

Em síntese, olhamos para as negociações com responsabilidade, como um meio para nos aproximar de um conjunto de princípios capazes de salvar o SNS, com a melhoria da carreira de todos os médicos e não apenas de alguns, de forma a que mantenham um cariz universalista, com a dotação orçamental disponível para o setor a ser colocada ao serviço de todo o SNS e não apenas das franjas que o MS quer privilegiar.

Estetoscópio

Ronda negocial continua, mas ainda não há conclusões

Decorreu hoje a primeira de duas reuniões da ronda negocial que está agendada entre a FNAM e o Ministério da Saúde, numa derradeira tentativa de chegar a um acordo capaz de defender os médicos, os utentes e o Serviço Nacional de Saúde (SNS), após o sinal de força que os médicos mostraram na greve de 5 e 6 de julho.

Apresentámos as propostas da FNAM que temos vindo a defender: uma proposta equilibrada, que defende e integra os internos no primeiro escalão da carreira, que defende a valorização salarial de todos os médicos, que reduz os horários semanais e de tempo de urgência e de horas extra, que desenhe um novo regime de trabalho e que não abra mão do descanso compensatório.

Recebemos do governo sinais contraditórios, de reconhecimento da razão da FNAM em alguns aspetos, mas também de intransigência em questões que consideramos fundamentais para garantir o futuro do SNS.

As conclusões ficaram agendadas para a última reunião desta ronda suplementar de negociações, marcada para a próxima terça-feira, dia 11 de julho, onde voltaremos a estar, sem abdicar da responsabilidade e da exigência que temos mantido ao longo dos últimos 14 meses.

A greve da ,maioria

Segundo dia de greve com 95% de adesão confirma unidade dos médicos antes da última ronda de negociações

Terminado o segundo dia de greve para todos os médicos, convocada pela FNAM, os números da adesão são muito significativos, em todo o país e em todos os serviços e especialidades.

O impacto da greve foi de tal maneira retumbante que a posição dos médicos saiu reforçada quando estamos na véspera da ronda suplementar de negociações, que terão lugar dias 7 e dia 11 de julho.

Está hoje claro, perante a comunidade médica, mas também perante a população, que as reivindicações da FNAM são da mais elementar justiça, que o objetivo é sobretudo a defesa do SNS, dos utentes e a dignidade de quem, todos os dias, garante a saúde de todos os que vivem e trabalham em Portugal.

Partimos para as negociações com os olhos postos num bom acordo, sem perda de direitos e sem jogadas de bastidores. Um acordo capaz de integrar os internos no primeiro escalão da carreira médica, um acordo que não obrigue nenhum médico a aumentar o número de horas extraordinárias, que majore de forma equitativa as tabelas salariais base e que bonifique, sem contrapartidas medievais, a nova forma de dedicação.

Queremos acreditar que o governo será sensível à mobilização dos médicos de todo o país, de todos os serviços e especialidades, dos médicos de família, aos médicos de saúde pública, aos médicos hospitalares, dos internos aos assistentes graduados seniores, em suma, a todos os que deram voz, de forma unânime, a uma greve cristalina do ponto de vista das suas intenções, e que não irá parar caso não sejam cumpridas as reivindicações que garantem a salvaguarda e o futuro do SNS.

Concentração de médicos em frente ao Hospital de Santa Maria

Adesão à greve dos médicos entre os 90% e os 100% de adesão

A adesão geral em todos os serviços de saúde que não estão abrangidos pelos serviços mínimos – que cumprimos escrupulosamente - ronda os 90%, com 95% nos blocos operatórios.

Destaque para os 100% de adesão dos médicos internos. Estes números reforçam a nossa convicção sobre a justiça de integrar os médicos internos no primeiro escalão da carreira médica.

Relativamente aos Cuidados de Saúde Primários - quer nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, que nas Unidades de Saúde Familiar - onde a adesão também foi de 100%, confirma-se a pertinência da denúncia que temos vindo a fazer sobre o abandono do Ministério da Saúde (MS) relativamente à maioria dos médicos de família, que correm o risco de perder direitos adquiridos, uma vez que a intenção do MS é que os médicos sejam colocados perante a decisão perversa de cumprir com as boas práticas na prescrição de medicamentos e de exames ou de cumprir com os objetivos de limitação de custos, para não serem prejudicados na sua remuneração.

Relativamente aos médicos Hospitalares, a greve rondou os 90% de adesão, números que também demonstram a insatisfação e a mobilização destes profissionais, bem como a urgência do Dr. Manuel Pizarro em aceitar as nossas propostas relativamente não só à dignificação dos salários, mas sobretudo à necessidade de reduzir o tempo de serviço de urgência das 18h para as 12h.

A adesão dos médicos de Saúde Pública foi também muito expressiva, o que espelha bem o resultado do esquecimento a que têm sido votados por parte da parte da tutela.

As concentrações realizadas em Lisboa, Porto e Coimbra, no primeiro dia da greve, foram muito mobilizadas, com centenas de médicos a marcar presença e a dar voz às suas preocupações no arranque da paralisação.

Não podemos deixar de assinalar, com um misto de espanto e indignação, as palavras do Primeiro-Ministro (PM), António Costa, que desvalorizou a relevância da greve dos médicos, argumentando estar preocupado com, citamos: “o sindicato dos portugueses”. Conforme dissemos em todas as concentrações, estas declarações de António Costa, refletem, de forma cristalina, o desfasamento que o PM e o governo têm da realidade do SNS, que está ao serviço de todos os cidadãos que vivem e trabalham em Portugal. A FNAM entende que as suas preocupações não são exclusivas dos médicos, mas de todo o país.

Reforçamos o apelo à participação de todos os médicos, sindicalizados ou não, para o segundo dia de greve.

Médico de família e utente

Proposta do Ministério da Saúde para as USF retira direitos aos médicos

Nas negociações com o Ministério da Saúde, também está em discussão o novo Decreto-Lei das Unidades de Saúde Familiar (USF). A proposta apresentada pelo Ministério implica a perda de direitos e, no caso dos médicos que trabalham em Unidades de Saúde Familiar de modelo B, a redução salarial.

A proposta não prevê um aumento do salário base dos médicos nas USF-B, retira o pagamento de domicílios e diminui os suplementos de orientador e de coordenador.

Além disso, a alteração à ponderação das listas de utentes passará a ser feita por um algoritmo que poderá levar ao aumento destas listas.

No entanto, o mais grave aplica-se à alteração das atividades específicas, colocando os médicos perante a decisão perversa de cumprir com as boas práticas na prescrição de medicamentos e de exames ou se cumpre os objetivos de limitação de custos, para não ser prejudicado na sua remuneração.

Esta forma de organização das USF é inaceitável. Os médicos de família devem ter todas as condições de assegurar os cuidados de saúde de qualidade aos seus utentes, sem ameaças de interferência nos seus salários.

Assim, esta proposta pretende aniquilar as atuais USF-B – um modelo que comprovadamente, por vários estudos, tem bons resultados com custos reduzidos –, generalizando um novo modelo de USF que fique mais barato, mas com piores resultados para os utentes, prejudicando os médicos de família em USF-B e não melhorando convenientemente as condições dos médicos nas Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados e nas USF-A.

Não se compreende como o Ministério da Saúde pretende fixar médicos de família desta forma, correndo o risco de aumentar ainda mais o número de utentes sem médico de família.

Para a FNAM, seria necessário generalizar o modelo das USF-B de Norte a Sul do país, sem perda de direitos e com aumento do salário base para todos os médicos de família. Consulte aqui a proposta da FNAM para o Decreto-Lei das USF.

Ponto de exclamação

O que separa a proposta do Ministério da Saúde da proposta da FNAM

Quando estão agendadas as duas últimas reuniões negociais para a próxima sexta-feira e terça-feira, dias 7 e 11 de julho, respetivamente, e quando está marcada uma greve de médicos para dia 5 e 6 de julho, a FNAM vem dar conta da distância que ainda se mantém entre a sua proposta e a proposta do Ministério da Saúde (MS).

São vários os temas que o MS ainda terá de rever de forma a garantir que os médicos não vão perder direitos, que não vão ter um mau acordo, que as medidas são aplicadas a todos, sem criar médicos de primeira e de segunda, num quadro discricionário de direitos.

Os principais pontos de discórdia prendem-se com:

1.º Horário semanal – O Ministério não abre mão das 40 horas semanais como horário base, enquanto a FNAM insiste que esse horário deve passar para 35 horas.

2.º Grelhas salariais – O Governo entope a comunicação social com alegados aumentos de 30%, mas isso está longe de ser verdade para todos os médicos. Os aumentos, para quem trabalha 40h, 35h com Dedicação Exclusiva (DE), 42h com DE ou 35H sem DE, correspondem apenas a 1 nível da Tabela Remuneratória Única (TRU), ou seja, valores que podem ser inferiores a 70€ no salário base. A proposta da FNAM não aceita grelhas que não se apliquem a todos os médicos, independentemente da carreira, especialidade, ou internato médico: ajustado à perda do poder de compra, à inflação e aumento de se passar das 40h para as 35h.

3.º Novo regime de trabalho – O MS insiste na obrigatoriedade da dedicação plena para médicos em Unidades de Saúde Familiar (USF) e, nos hospitais, em Centros de Responsabilidade Integrados (CRI). A FNAM não abre mão de uma dedicação, que seja exclusiva, mas opcional e devidamente majorada. Além disso, a progressão na carreira não pode ser um privilégio da dedicação plena que se aplique apenas aos médicos que à data de entrada em vigor do acordo já estão contratados.

4.º Trabalho ao Sábado – Neste novo regime de trabalho, o MS propõe que os médicos hospitalares que não façam serviço de urgência, em virtude da sua especialidade ou idade, sejam obrigados a trabalhar um sábado por mês. Para a FNAM, mais esta medida discricionária é inaceitável.

5.º - Descanso compensatório – Como temos vindo a dizer, “é preciso cuidar de quem cuida”, algo impossível de acontecer se o MS acabar, como quer, com o prejuízo do horário do descanso compensatório após o trabalho noturno. Não se trata de um slogan publicitário, mas de um direito, dos médicos, e pela segurança dos doentes, do qual não abriremos mão em nenhuma circunstância. Trata-se de podermos exercer a nossa profissão com dignidade, segurança e plenos de capacidade, de forma a garantir um SNS de qualidade.

6.º - Redução do horário em serviço de urgência (SU) – O MS não aceita qualquer alteração e quer manter tudo na mesma, mantendo as 18 horas do horário normal em SU. Na proposta da FNAM defendemos que o SU passe para 12 horas, posto que os médicos têm de ter tempo do horário alocado às consultas, cirurgias, formação de internos, pelo que tal não é possível se mantiverem as 18 horas a fazer SU.

7.º Saúde Pública – O Ministério não aventa qualquer proposta para os médicos de saúde pública. A FNAM defende um regime de dedicação e valorização igual para os médicos de saúde pública, sem exceção.

8.º Universalidade dos suplementos – Em várias das suas propostas, o MS insiste na divisão dos médicos, algo que nos parece inaceitável e fora dos princípios constitucionais de equidade. É o caso dos suplementos de direção ou coordenação, de orientação e formação de internos, onde o MS não aceita a sua generalização a todos os médicos.

9.º Limite de horas extraordinárias - O MS quer aumentar o limite das horas extraordinárias para as 350 horas por ano, valores medievais, completamente contrários às boas práticas dos países de referência. Entendemos que o número de horas não deve ultrapassar o teto atual das 150 horas por ano.

10.º Internato Médico – O MS continua a recusar a inclusão do internato médico no 1.º grau da carreira médica, algo de elementar justiça para todos os que conheçam a realidade do seu dia a dia e o grau de dependência do SNS relativamente aos médicos internos, que constituem um terço da força de trabalho.

Em síntese, e tomando como exemplo as primeiras posições na tabela salarial de cada categoria, dos propagados aumentos de 30% que o MS tem vindo a divulgar, estamos a falar dos seguintes aumentos reais:

a) No regime de 40h sem que o médico aceite qualquer alteração de regime

    • Assistente: + 53,68€;
    • Assistente Graduado: + 54€;
    • Assistente Graduado Sénior: + 54€.

b) nas 35h com DE (todos os médicos em USF-B atualmente)

    • Assistente: + cerca de 56€;
    • Assistente Graduado: + cerca de 50€;
    • Assistente Graduado Sénior: + cerca de 22€.

c) Para as 42h com DE e para as 35h sem DE

42h com DE:

    • Assistente: + cerca de 18€;
    • Assistente Graduado: + cerca de 31€;
    • Assistente Graduado Sénior: mais cerca de 4€.

35h sem DE:

    • Assistente: + cerca de 70€;
    • Assistente Graduado: + cerca de 43€;
    • Assistente Graduado Sénior: + cerca de 45€.

d) para os médicos internos:

    • Formação geral + 48€;
    • Formação especializada + 91€;
    • Formação especializada a partir do 4ª ano + 145€

Como se pode ver em qualquer um destes dez pontos da discórdia, não se trata de defender corporativamente a posição dos médicos, mas as questões fundamentais para que eles possam exercer, com salários dignos, horários justos e condições de trabalho capazes de garantir um SNS à altura das necessidades de toda a população.

Mulher grávida

Ambiente de conflito e falta de democracia interna levam à transferência de grávidas do Hospital Santa Maria para o privado

A decisão de encaminhar grávidas de baixo risco do Hospital de Santa Maria para hospitais do sector privado deve-se a um conjunto de más decisões por parte do Conselho de Administração.

A situação no serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital de Santa Maria continua problemática, desta vez pela enorme dificuldade na elaboração da escala do serviço de urgência de julho, não cumprindo os requisitos mínimos previstos para o seu funcionamento. Por isso, a Administração decidiu encaminhar grávidas de baixo risco para o sector privado.

Os médicos do serviço alertaram, mais uma vez, pela irregularidade da escala e têm-se mostrado abertos ao diálogo e à procura de soluções. No entanto, um conjunto de más decisões do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte não tem permitido a resolução do ambiente de conflito que se vive no Hospital de Santa Maria.

Pelo contrário, o afastamento dos responsáveis pelo serviço, as ameaças de cancelamento de férias e outras represálias, como o não pagamento de horas extraordinárias, perante a união dos médicos do serviço de ginecologia-obstetrícia, têm dificultado encontrarem-se as soluções para uma transição eficaz do bloco de partos para o Hospital São Francisco Xavier, durante as obras no Hospital de Santa Maria.

Os médicos do serviço têm defendido que os chefes de departamento demitidos são os que reúnem a confiança técnico-científica para coordenar este processo e que a necessidade de implementar um regime democrático e de cooperação é essencial para permitir as condições de trabalho necessárias que garantam os melhores cuidados de saúde e de segurança para as utentes.

Acresce que este processo poderia ser conduzido com serenidade, em vez da forma apressada e desajeitada que está a ser levada a cabo, uma vez que as obras não irão começar num futuro próximo.

Para a FNAM, é fundamental que os processos sejam transparentes e democráticos. O Ministro da Saúde afirmou, a propósito desta situação no Hospital de Santa Maria, que o diálogo tem um limite, mas a paciência dos médicos também. É preciso não esquecer que a valorização do trabalho médico é uma peça fundamental para evitar este tipo de situações e permitir que os médicos fiquem no Serviço Nacional de Saúde.

Médicos em serviço de urgência

FNAM mantém greve a 5 e 6 de julho e abre possibilidade a greve no início de agosto

A FNAM reuniu o seu Conselho Nacional no dia 1 de julho, no Porto, para analisar o rascunho do Ministério da Saúde e discutir novas medidas luta, decidindo manter a greve de 5 e 6 de julho e não excluir uma greve na primeira semana de agosto.

O Ministério da Saúde apresentou um rascunho de proposta no último dia do protocolo negocial, a 30 de junho. Trata-se de uma proposta que apenas valoriza dignamente o trabalho de alguns médicos. Para a FNAM, não se pode excluir os médicos internos – um terço da força de trabalho médico no SNS –, os médicos das Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, boa parte dos médicos hospitalares e os médicos de Saúde Pública. Um acordo terá de englobar todos os médicos, sem exceção.

Havendo um excedente orçamental e sendo o SNS o garante dos cuidados de saúde em Portugal, é fundamental que o Ministério das Finanças desbloqueie as verbas necessárias e que o Ministério da Saúde tenha a vontade política de implementar as medidas necessários para os médicos.

A FNAM mantém-se completamente disponível para negociar e para chegar a um entendimento. Por isso, vai apresentar a sua contraproposta ao Ministério da Saúde, havendo já duas reuniões agendadas, para 7 e 11 de julho.

No entanto, face ao adiar constante das soluções – e à proposta insatisfatória que recebemos –, a FNAM mantém a sua greve de 5 e 6 de julho e não exclui uma nova greve nacional na primeira semana de agosto.

Petição em defesa do reconhecimento do estatuto de profissão de desgaste rápido aos médicos